domingo, 7 de agosto de 2011

NÃO À ENERGIA NUCLEAR NO BRASIL- 66 anos da Explosão da Bomba de Hiroshima


NÃO À ENERGIA NUCLEAR NO BRASIL
1-          É certo que necessitamos de energia para nossa sobrevivência e bem estar: produzir alimentos, produtos e equipamentos a serviço de mais qualidade de vida, nos proporcionar mobilidade para usufruir de liberdade, conhecer o mundo, abraçar a felicidade. Quando a energia que utilizamos, porém, compromete o bem estar das futuras gerações, estamos diante de um sério problema ético. Garantimos a nós o que não podemos garantir a elas. Pior, com o uso da energia nuclear assinamos uma fatura que elas inexoravelmente pagarão com enorme custo – cuidar de rejeitos tóxicos perigosíssimos os quais permanecerão nessa condição por uma eternidade. A equação do uso da energia nuclear começa pela ética, que, para nós, coloca A VIDA SEMPRE EM PRIMEIRO LUGAR, paradigma que deveria orientar todas as nossas decisões. Esse terrível “legado” que deixamos para as futuras gerações, é fazê-las cuidar de um passivo associado à morte - atitude anti-humana e antivida em todos os sentidos, injustificável sob todos os pontos de vista, mesmo sob o olhar de uma pretensiosa racionalidade científica.
2 - Diante de outras alternativas energéticas, o custo/benefício da energia nuclear é altamente negativo. O ganho líquido de energia, estimado em apenas 25% do que total gerado é tão irrisório, que não compensa o enorme investimento aplicado, o qual inclui o tempo necessário para gerenciar o armazenamento final do lixo radioativo, assim como todas as peças da estrutura dos reatores. Investimento esse, no caso do Brasil, de origem exclusivamente pública. Deixa-se de investir em escolas, portanto, para investir em uma central nuclear. Diante dos avanços tecnológicos obtidos na geração de energia eólica, solar e de biomassa, atualmente a energia nuclear é a mais cara do ponto de vista financeiro, portanto, claramente antieconômica sob o prisma “estritamente capitalista”.
3 - O argumento de que a energia nuclear não gera gases do efeito estufa, é claramente falacioso. Ao se computar toda a produção de gases, notadamente o CO2 produzido ao longo da construção, operação e desmonte de uma usina nuclear, chega-se a conclusão de que a apregoada “energia limpa”, além de terrivelmente tóxica, é também suja quanto à produção de gases do efeito estufa. A falácia está em retratar apenas a energia gerada isoladamente do contexto da construção das instalações e complexa gestão para sua obtenção, além daquela posteriormente gasta em sua desmontagem e “eterna guarda” dos rejeitos finais.
4 - A história da obtenção de energia através da fissão atômica compreende uma vasta e trágica coletânea de acidentes que deixaram milhares de pessoas mortas e deformadas e imensos territórios estéreis em várias partes do mundo, virtualmente impenetráveis e fortemente guarnecidas a manu militari, além de inúteis para utilização na agricultura, por exemplo. Um legado de desastres continuados, Three Mile Island, Chernobyl, Goiânia, estão entre os eventos que mais ficaram em nossa lembrança, a par das vozes que defendiam sua incolumidade a acidentes operacionais e ocasionados por forças da natureza, como mais uma vez, se viu desmentir nos eventos trágicos em Fukushima.
5 - A longevidade de uma central nuclear é curta (30 anos), e, considerando todas as suas fases, o tempo de geração é quase o mesmo que o tempo de planejamento da construção, sua construção propriamente dita, o plano de desmonte, o desmonte propriamente dito, a disposição dos rejeitos e seu guarnecimento seguro. Comparando-se nossa curta escala temporal civilizatória com o tempo de efetiva anulação da radioatividade produzida pelos rejeitos atômicos, pode-se afirmar com toda segurança, que os mesmos são de duração permanente, certamente para dezenas de gerações vindouras. O decaimento radioativo (meia vida) da maior parte dos materiais utilizados soma milhares de anos, um pesado legado transferido para quem sequer hoje está presente para decidir sobre sua utilização. Estima-se em 6 bilhões de toneladas de resíduos radioativos produzidos até os dias atuais. A par da sua duração, soma-se o problema ainda não resolvido quanto à acomodação segura dos rejeitos com maior radioatividade, soluções que envolvem desde a construção de mega-bunkers em minas profundas e de silos em montanhas, a complexas acomodações em profundezas oceânicas, todas elas altamente custosas e questionáveis quando à sua suposta “absoluta segurança”.
6 - A construção de centrais nucleares envolve um fator normalmente afastado da opinião pública – a vulnerabilidade militar, pois se tornam alvos privilegiados diante de qualquer conflito sério. Contra esse fator não há antídotos confiáveis, e a forma de mascará-los é propor investimentos correspondentes na área militar, sofisticando os sistemas defensivos e de ataque, incluindo aí, o emprego de armas nucleares, submarinos nucleares e sistemas de escudos de mísseis, nada que na prática afasta por completo as ameaças que sobre elas pairam. Em verdade, o antídoto só faz incrementar ainda mais a soma das vulnerabilidades de um país. Como alvos militares privilegiados que são, passam a ter um status de segurança ainda mais obscuro e elevado, tornando o controle social sobre esse sistema ainda mais difícil. Normalmente, o “pacote atômico” é legitimado com o rótulo patriótico de “orgulho nacional”, fator de projeção política do país no cenário internacional.
7 - A proporção das energias renováveis na matriz energética brasileira é uma das maiores do mundo dentre as maiores economias da atualidade, sendo que a energia nuclear representa menos de 3% do total. Bastaria que investimentos há muito reivindicados fossem feitos em eficiência energética a fim de compensar essa pífia produção. Cálculos indicam que se obteria seguramente 10% de acréscimo de energia somente na reforma de antigos geradores nas usinas hidrelétricas e mais um tanto em melhorias nas redes de distribuição, tecnologicamente ultrapassadas, e que tem gerado constantes apagões por todo país. Diante dos números e dos fatos, abrir mão de Angra III, além de desligar Angra I e Angra II, em nada comprometeria o desempenho e produção de energia no país que, aliás, está sobrando nos dias atuais, conforme atesta o próprio Ministério de Minas e Energia.
8 - A forma como é gerenciado o sistema elétrico brasileiro está mais para uma impenetrável “caixa-preta” do que para uma gestão transparente em um país dito democrático, o que comprova a tese de que vivemos em uma democracia de fachada e salienta a importância que tem a bandeira de controle social sobre o Estado e as políticas públicas, no caso, na área energética. Um núcleo hermeticamente fechado de tecnocratas enclausurados em alguns poucos órgãos do Estado – Ministério de Minas e Energia - MME, Empresa de Pesquisas Energéticas – EPE, Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN e a Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, decide arbitrária e unilateralmente sobre os modelos, o volume de produção e a gestão do sistema energético nacional. No caso da energia nuclear, ainda se valem do manto do sigilo em função do fator de “segurança nacional”, pelo fato de envolver a construção do submarino nuclear por parte da Marinha, assim como os reatores de pesquisa que lhes darão suporte.
9 - Mundo afora, a energia nuclear está sendo abandonada por parte de países que importam grande parte de energia para seu consumo próprio. Recentemente foi o caso da Suíça e da Alemanha, que desativará seus nove reatores ainda em funcionamento, até 2022. A Itália seguiu essa histórica decisão, mediante o inquestionável resultado de um plebiscito que se posicionou amplamente favorável ao abandono da energia nuclear naquele país, também carente de fontes externas para suprir sua demanda de energia. Os exemplos acima atestam que em países nos quais a democracia participativa alcança as decisões energéticas, os governantes não relutam em decidir pelo abandono de origem nuclear.
10- Recente pesquisa de opinião realizada pelo IBOPE, parte brasileira da pesquisa global sobre o assunto, divulgada em abril do corrente ano, constatou que 54% dos brasileiros são contra o uso da energia nuclear para geração de eletricidade, resultado que se alinha com a opinião no mundo todo depois dos recentes eventos no Japão. De outra parte, 57% afirmaram “estarem preocupados com um acidente nuclear no país”, o que reforça os indícios sobre o péssimo gerenciamento da questão nuclear em nosso meio, sob todos os pontos de vista – planejamento, financeiro, segurança, operacional, solução para os rejeitos radioativos. Cientistas de todo mundo também vêm se posicionando contra o uso da energia nuclear, como foi o caso dos ganhadores do Prêmio Nobel Alternativo, em manifesto conjunto feito em 29.04.11, a partir de Hamburgo e Estocolmo, assinado por 50 personalidades, exigindo o banimento da energia nuclear no planeta, seguidos de manifestações semelhantes, também aqui no Brasil.

PELO ABANDONO DA ENERGIA NUCLEAR NO BRASIL

6 de agosto de 2011- 66 anos depois da explosão da 1ª Bomba Atômica em Hiroshima

Gert Schinke